A Baleia Azul

Tinha lido num daqueles livros sobre animais que entre os maiores seres na terra as baleias eram indiscutivelmente os maiores. Autênticos gigantes aquáticos, que vagueiam apaticamente pelos oceanos, sem se darem conta do seu descalabro tamanho em relação ao restante mundo animal.
A baleia azul, maior que todas as outras, é o verdadeiro titã da nossa era. Um animal prodígio, que assombra em tamanho o próprio Jurássico, mantendo uma rivalidade acesa com os Saurópodes, os maiores dinossauros conhecidos. Bate, até aos dias de hoje, em tamanho e em massa, todos os espécimes fossilizados achados e nunca um outro ser lhe fez sombra.
Este monstro de aspecto simpático é tão descomunal que é difícil de imaginar. Na sua boca aberta cabem 50 pessoas a dançar e cada folgo que dá à tona é um geiser da altura de um prédio de 4 andares. O seu peso corresponde a 40 elefantes empilhados e quando dá à costa pode alimentar uma aldeia inteira durante meio ano. É tão grande que na sua barriga se pode construir uma casa, e no seu coração cabem 4 confortavelmente homens.
Não sei bem que idade tinha, mas lembro-me que andava fascinada com a Baleia Azul. Era pequena o suficiente para ainda não entender o significado exacto de crescer. Não compreender que uma criança cresce para ser homem, e que não pode nunca crescer para ser outra coisa que não homem. Ainda não tinha chegado lá. Achava que podia crescer para o que eu quisesse. Acho que também não pensava muito na lógica disso, mas também acho que não pensava muito na altura.
Mas era o que eu achava, que podia crescer para ser outra coisa qualquer. Uma coisa que eu quisesse claro, que isto de crescer era para tudo. E lembro-me de me perguntarem o que queria ser quando fosse grande. E de responder rapidamente: Quero ser uma baleia azul.

2014

Baleia de cerâmica que fiz com 4/5 anos (1993/4?) e Texto (2014). 2014, Philantra, Póvoa de Varzim.